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Diante da crise de deslocamento sem precedentes, países das Américas seguem oferecendo exemplos de solidariedade e integração

12 junho 2025

Publicado nesta quinta (12), o Relatório Anual de Tendências Globais do ACNUR aponta que havia, no final de abril de 2025, 122,1 milhões de pessoas deslocadas à força em todo o mundo. 

O relatório global revelou que, ao contrário da percepção generalizada nas regiões mais ricas, 67% das pessoas refugiadas permanecem em países vizinhos, e que países de baixa e média renda acolhem 73% dos refugiados do mundo. 

Para o representante do ACNUR no Brasil, Davide Torzilli, o Brasil tem se colocado como uma liderança regional nos processos de acolhimento, proteção e integração das pessoas refugiadas.

Legenda: Participantes do Rio Refugia, festival multicultural que celebra o Dia Mundial do Refugiado (20 de junho). O Rio Refugia é organizado pelo PARES Cáritas RJ, Sesc RJ, Abraço Cultural RJ e Feira Chega Junto, com apoio da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).
Foto: © PARES Cáritas RJ/Luciana Queiroz.

O número de pessoas deslocadas por perseguição, guerra e violência em todo o mundo é insustentavelmente alto, especialmente considerando os cortes no financiamento humanitário, declarou nesta quinta (12) o ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, destacando como único aspecto positivo o aumento dos retornos, em especial para a Síria.

Segundo o Relatório Anual de Tendências Globais do ACNUR, publicado hoje, no final de abril de 2025 havia 122,1 milhões de pessoas deslocadas à força, em comparação com os 120 milhões registrados no mesmo período do ano anterior, o que representa cerca de dez anos consecutivos de aumento anual no número de refugiados e outras pessoas forçadas a fugir de suas casas. Os principais fatores que provocam o deslocamento continuam sendo grandes conflitos, como os do Sudão, Mianmar e Ucrânia, e a constante incapacidade de cessar os combates.

“Vivemos em uma era de intensa volatilidade nas relações internacionais, em que as guerras modernas criam um cenário frágil e devastador, marcado por um sofrimento humano agudo. Devemos redobrar nossos esforços para buscar a paz e encontrar soluções duradouras para os refugiados e outras pessoas forçadas a fugir de seus lares” declara o Alto Comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi. 

Entre as pessoas deslocadas à força estão aquelas que foram obrigadas a se deslocar dentro de seus próprios países devido a conflitos – cujo número, no final de 2024, havia alcançado 73,5 milhões, após um forte aumento (de 6,3 milhões de pessoas) – e os refugiados que foram forçados a deixar seus países (42,7 milhões de pessoas). O Sudão, com 14,3 milhões de refugiados e deslocados internos, tornou-se o país com o maior número de pessoas deslocadas à força no mundo, superando tristemente a Síria (com 13,5 milhões). Em seguida vêm o Afeganistão (com 10,3 milhões) e a Ucrânia (com 8,8 milhões).

Deslocamento forçado nas Américas

A crise global de deslocamento afeta profundamente as Américas, onde a população deslocada à força e assistida ou protegida pelo ACNUR, no final de 2024, alcançava 21,9 milhões de pessoas, ou seja, 17,6% do total mundial.

Globalmente, 60% das pessoas forçadas a fugir nunca cruzam as fronteiras de seus próprios países. Nas Américas, o crime e a insegurança tornaram-se as principais causas do deslocamento interno, desde a violência indiscriminada de gangues no Haiti até o impacto do conflito nas comunidades da Colômbia. O deslocamento interno no Haiti triplicou em 2024, ando de 313,9 mil para mais de 1 milhão de pessoas, enquanto a Colômbia possui uma das maiores populações de deslocados internos do mundo, com aproximadamente 7 milhões de pessoas.

“As situações de deslocamento forçado nas Américas, provocadas por conflitos e violações de direitos humanos, representam riscos significativos para a estabilidade e a prosperidade regionais”, comentou o diretor regional do ACNUR para as Américas, José Samaniego. “Apesar disso, muitos países da América Latina e do Caribe mantiveram suas fronteiras abertas e alcançaram avanços significativos na proteção, estabilização e integração das populações deslocadas.”

O relatório global revelou que, ao contrário da percepção generalizada nas regiões mais ricas, 67% das pessoas refugiadas permanecem em países vizinhos, e que países de baixa e média renda acolhem 73% dos refugiados do mundo. A maioria dos refugiados e migrantes da Venezuela, de fato, permanece em países da América Latina e do Caribe, principalmente na Colômbia, Peru, Brasil, Chile e Equador.

Para o representante do ACNUR no Brasil, Davide Torzilli, o Brasil tem se colocado como uma liderança regional nos processos de acolhimento, proteção e integração das pessoas refugiadas.

“Exemplos disso são a realização da Conferência Nacional de Migrações, Refúgio e Apátridas (Comigrar) que vai gerar a nova política nacional para essas populações; a Estratégia de Interiorização da Operação Acolhida, que já facilitou a integração de cerca de 150 mil pessoas venezuelanas; e o Programa Brasileiro de Reassentamento e Patrocínio Comunitário para Afegãos, que assegura o compromisso brasileiro em acolher refugiados em contextos de emergência humanitária”, afirma.

Os avanços do Brasil confirmam análises sobre as diversas contribuições que pessoas refugiadas agregam às comunidades de acolhida. De fato, estudos recentes de instituições financeiras internacionais destacam as contribuições sociais e econômicas positivas das pessoas refugiadas e deslocadas em seus países de acolhida na América Latina e no Caribe, entre elas: o impulso ao crescimento do PIB, a criação de empresas formais, a contribuição para a arrecadação fiscal e o fortalecimento dos sistemas de seguridade social.

“Em toda a nossa região, pessoas refugiadas estão abrindo negócios, ingressando no mercado de trabalho e revitalizando economias locais. Mas só poderão continuar fazendo isso se investirmos em sua proteção, estabilização e inclusão”, afirmou Samaniego. “Acolher e integrar essa população não é apenas um imperativo humanitário, mas também uma importante oportunidade socioeconômica.”

População deslocada cresce enquanto orçamento humanitário regride drasticamente

Embora o número de pessoas deslocadas à força tenha quase dobrado na última década, o financiamento do ACNUR está atualmente em um nível semelhante ao de 2015, diante de cortes brutais que afetam a ajuda humanitária. Essa situação é insustentável e expõe pessoas refugiadas e outras que fogem do perigo a uma vulnerabilidade ainda maior.

Nas Américas, reduções drásticas de financiamento obrigaram o ACNUR a cortar atividades essenciais nas áreas de assistência humanitária, assessoria jurídica, serviços de saúde, apoio à documentação, regularização e programas de meios de subsistência em diversos países da região. Esses cortes podem prejudicar gravemente a capacidade de resposta humanitária e os esforços de integração na região.

“Para evitar novos deslocamentos, é necessário que o ACNUR e seus parceiros continuem promovendo programas que salvam vidas e apoiando os governos na estabilização das populações deslocadas por meio do o ao asilo, à regularização e à documentação, bem como à reintegração do número crescente de pessoas que retornam aos seus países de origem. Somente com o apoio contínuo da comunidade internacional, do setor privado e de atores financeiros e de desenvolvimento, esta região poderá continuar sendo uma região de solidariedade, proteção e soluções, apesar dos inúmeros desafios que se avizinham”, afirmou Samaniego.

Para mais informações sobre este tema, entre em contato:

ACNUR

Miguel Pachioni

ACNUR
Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

ACNUR
Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados

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